Como equilibramos a necessidade da volta ao lar espiritual com a nossa vida de rotina? Basta que planejemos previamente o espaço para o lar espiritual nas nossas vidas. É sempre surpreendente como é fácil para a mulher “arrumar tempo” quando ocorre uma doença na família, quando uma criança precisa dela, quando o carro enguiça, quando ela tem uma dor de dente. é preciso que demos o mesmo valor à volta ao lar, se necessário que lhe atribuamos proporções de crise. Pois a verdade inequívoca é que, se a mulher não for quando chegou sua hora de ir ao encontro do seu lar espiritual, a fenda finíssima na sua alma/psique se transforma numa ravina, e a ravina se transforma num abismo fragoroso.
Se a mulher valoriza absolutamente seus ciclos de volta ao lar, os que a cercam irão também aprender a valorizá-los. É verdade que podemos alcançar um nível significativo de volta ao “lar” quanto tiramos algum tempo longe da monotonia da rotina diária, um tempo que não pode ser interrompido e que é exclusivamente nosso. Só que “exclusivamente nosso” tem significados diferentes para mulheres diferentes. Para algumas, estar num aposento com a porta fechada, mas ainda estando acessível aos outros, já é uma boa volta ao lar. Para outras, porém, o lugar onde elas podem mergulhar precisa estar livre até mesmo da menor interrupção. Para este tipo de mulher, a entrada para o lar profundo é evocada pelo silêncio.
Independente do tempo dedicado ao “lar”, uma hora ou dias, lembre-se de que outras pessoas podem cuidar dos seus gatos mesmo que seus gatos digam que só você sabe cuidar certo. Seu cachorro tentará fazer com que você pense que está abandonando uma criancinha numa rodovia, mas acabará por perdoá-la. A grama irá ficar um pouco amarelada, mas reviverá. Você e seu filho sentirão falta um do outro, mas os dois se alegrarão quando da sua volta. Seu parceiro pode resmungar. Todos irão superar o problema. Seu chefe pode ameaçá-la. ele ou ela também superará isso. Demorar-se demais é loucura. A volta ao lar é a decisão saudável.
Quando a cultura, a sociedade ou a psique não apoiam esse ciclo de volta para o las, muitas mulheres aprendem a saltar por cima do portão ou a cavar por baixo da cerca, de qualquer jeito. Elas contraem alguma doença crônica e roubam um tempinho para leitura na cama. Dão aquele sorriso amarelado como se tudo estivesse bem e continuam numa sutil redução do ritmo de trabalho enquanto necessário. Quando o ciclo de volta para o lar é perturbado, muitas mulheres sentem que, para se verem livres, precisam arrumar uma briga com o chefe, com os filhos, com os pais ou com seu parceiro para afirmar suas necessidades psíquicas. E assim o que acontece é que no meio de uma explosão ou outra mulher insiste. “Bem, vou embora. Já que você é tão______[preencha a lacuna] e obviamente não liga a mínima_________________[preencha a lacuna], vou embora, muito obrigada.” E lá se vai ela, com um ronco, um estrondo e uma saraivada de cascalho. Se você tiver de lutar cada vez que quiser ir, seus relacionamentos mais íntimos, inclusive o que tem com você mesma, precisam ser cuidadosamente avaliados. Se possível, é melhor demonstrar ao seu pessoal que você estará diferente quando voltar, que você ão está abandonando, mas de reprendendo e trazendo a si mesma de volta para sua verdadeira vida.
Mulheres diferentes têm critérios diferentes para o que consiste num períodi útil e/ou necessário passado no “lar”. A maioria de nós nem sempre pode ficar lá tanto tempo quanto quer. Por isso, ficamos o tempo que podemos. de vez em quando, ficamos lá o tempo que precisamos. em outras ocasiões, ficamos por lá até sentirmos falta do que deixamos. às vezes mergulhamos, saímos, mergulhamos de novo, rapidamente. a maioria das mulheres de volta aos ciclos naturais alternam entre essas opções, procurando equilibrar as circunstâncias e a necessidade. Uma coisa é certa. é uma boa ideia ter uma pequena valise pronta junto à porta. Para uma eventualidade.
Texto adaptado de um trecho do livro: Mulheres que Correm com os Lobos de Clarissa Pinkola Estés