Passagem muito rica do livro Mulheres que Correm com os Lobos sobre os quatro níveis do perdão. Sinto de compartilhar com vocês.
Cada nível tem algumas camadas. Pode-se lidar com eles em qualquer ordem e pelo tempo que se deseje.
Os quatro estágios do perdão
- Deixar passar – deixar a questão em paz
- Controlar-se – renunciar à punição
- Esquecer – afastar da memória, recusar-se a repisar
- Perdoar – o abandono da dívida
Deixar Passar: Para se começar a perdoar, é bom deixar passar algum tempo. Ou seja, é bom deixar de pensar provisoriamente na pessoa ou no acontecimento. Não se trata de deixar algo por fazer, mas assemelha-se a tirar umas férias do assunto. Isso ajuda a evitar que fiquemos exaustas, permite que nos fortaleçamos por outros meios, que tenhamos outras alegrias na vida. A ideia não é a de fechar os olhos, mas de adquirir agilidade e força para se desligar da questão. Deixar passar envolve voltar a tecer, a escrever, ir até o mar, aprender e amar algo que a fortaleça e deixar que o tema saia do primeiro plano por um tempo.
Controlar-se: A segunda fase é a do controle, especificamente no sentido de abster-se de punir; de não pensar no fato nem reagir a ele seja em termos grandes, seja em termos pequenos. Controlar-se significa ter paciência, resistir, canalizar a emoção. Evitar punições desnecessárias reforça a integridade da alma e da ação. Controlar-se é praticar a generosidade, permitindo, assim, que a grande natureza compassiva participe de questões que anteriormente geravam emoções que iam desde a ínfima irritação até a fúria.
Esquecer: Esquecer significa afastar da lembrança, recusar-se a repisar o assunto – em outras palavras, , deixar de lado, soltar, especialmente da memória. Esquecer não quer dizer entorpecer o cérebro. O esquecimento consciente consiste em deixar de lado o acontecimento, não insistir para que ele permaneça no primeiro plano, mas permitir que ele seja relegado ao plano de fundo ou mesmo que saia do palco.
Perdoar: Existem muitos meios e proporções com os quais se perdoa uma pessoa, uma comunidade, uma nação por uma ofensa. É importante lembrar que um perdão “final” não é uma capitulação. É uma decisão consciente de deixar de abrigar ressentimento, o que inclui o perdão da ofensa e a desistência da determinação de retaliar. É você quem decide quando perdoar e o ritual a ser usado para assinalar esse evento. É você quem resolve qual é a dívida que você agora afirma não precisar mais ser paga.
O perdão é onde vão culminar toda abstenção, o controle e o esquecimento. Não significa abdicar da própria proteção, mas da própria frieza. Uma forma profunda de perdão consiste em deixar de excluir o outro, o que significa deixar de mantê-lo a distância, de ignirá-lo, de agir com frieza, condescendência e falsidade.
O perdão é um ato de criação. Você pode escolher entre muitas formas de proceder. Você pode perdoar por enquanto, perdoar até que, perdoar até a próxima vez, perdoar mas não dar outra chance – começa tudo de novo se acontecer outro incidente. Você pode dar só mais uma chance, dar mais algumas chances, dar chances só se…
Você decide.
Como saber que perdoou? Você passa a sentir tristeza e respeito da circunstância, em vez de raiva. Você passa a sentir pena da pessoa em vez de irritação. Você passa a não se lembrar de mais nada a dizer a respeito daquilo tudo. Você compreende o sofrimento que provocou a ofensa. Você prefere se manter fora daquele meio. Não há no seu tornozelo nenhuma armadilha de laço que se estende desde lá longe até aqui. Você está livre para ir e vir. Pode ser que tudo não tenha acabado em “viveram felizes para sempre”, mas sem a menor dúvida existe de hoje em diante um novo “Era uma vez” à sua espera.
Larissa Marques