No mundo atual, as pessoas correm contra o tempo, são ensinadas a competir entre si e levam estilos de vida padronizados por um sistema. Fica fácil colocar o foco nas distrações virtuais, como se instantaneamente colocássemos um óculos de kaleidoscópio onde as pessoas tem vidas perfeitas, relacionamentos amorosos perfeitos e empregos perfeitos. Fica fácil mascarar o que está por baixo disso tudo.
Estamos em Setembro, o mês da conscientização sobre suicídio. Sinto de trazer algumas palavras minhas sobre o assunto, afim de conscientizar e acolher a quem necessite. Provavelmente esse texto será o que eu me exponho mais e confesso que por muitos anos eu busquei esconder isso e não falava sobre. Parte de mim julgava a mim mesma, etiquetando o que fiz como feio ou errado.
Julgava minha tentativa de suicídio como um grande pecado e que eu deveria ser punida de alguma forma. Percebi que quanto menos eu me aceitava e me compreendia, mais incompreensão e julgamentos alheios eu alimentava. Meu histórico com a depressão se iniciou quando eu tinha por volta de 15 anos. Filha de pais ausentes e envolvidos com abuso de drogas, meu inconsciente procurava pelo que eu havia feito de errado para que as coisas fossem da maneira como eram e assumi um padrão de perfeição que eu buscava a qualquer custo. Um padrão imposto por mim mesma e, de certa forma, estimulado pela sociedade onde vivemos.
Desenvolvi anorexia nervosa e cheguei a pesar 38 kgs. Após a luta para vencer a anorexia, os sorrisos mascaravam o que ainda restava do padrão depressivo. A depressão ia e vinha em minha vida. Mergulhei no mundo dos esportes, o que me manteve em controle da situação por alguns anos. Chegou a faculdade de medicina veterinária, onde me vi, novamente, tentando encaixar em padrões.
Junto com a faculdade veio um relacionamento abusivo e, a partir daí, a depressão se tornou meu refúgio. Era a forma de não lidar com minha realidade e ao mesmo tempo a única forma de lidar com ela. Comecei a tomar remédios controlados e passava o dia dopada, sem saber se estava ou deprimida ou sob efeito de drogas. Em algum momento, os remédios não faziam mais o mesmo efeito e quando a situação ficou insuportável veio a tentativa de suicídio. Fui levada ao hospital a tempo de lavarem meu estômago.
Tenho poucas lembranças dessa noite. Lembro de ter visto meu pai, já falecido, e ele me dizia pra aguentar firme. Percebi, naquele dia, que havia algo além das sombras que me seguiam. Havia como dissipar essas sombras. Mas como? Após a tentativa de suicídio, optei por largar todos os remédios sem consultar o médico. Eu sabia que teria um efeito rebote por largar de uma vez só, mas algo que em mim falava mais alto. Dentro de uns seis meses a depressão voltou com a mesma velocidade que em um dia de verão o céu se fecha, fica tudo escuro, nuvens se formam e uma chuva torrencial vem levando tudo. Foi aí que fui parar nas cerimônias com as medicinas da floresta.
Uma amiga minha já havia tomado ayahuasca e eu a procurei dizendo que era minha última porta. Gostaria de dizer que após aquela primeira cerimônia eu estava curada, mas não foi bem assim. Após a primeira cerimônia eu sabia que algo havia mudado em mim e em minha vida, mas a depressão não parou por ali. Estamos em setembro, portanto, esse mês completam-se quatro anos desde a minha primeira cerimônia. Nesses quatro anos, posso dizer que meu processo de cura foi discorrendo de uma forma linda e ao mesmo tempo dolorosa. Foram altos e baixos, uma verdadeira montanha russa. Nesses quatro anos houveram muitas cerimônias.
Tomei muita medicina, me casei, descobri o Yoga, descobri relações que me engrandecem e me abri para passar por diversas terapias holísticas. Em devido momento cheguei a pensar “Poxa, nada funciona para mim”. Mesmo em meio à tudo isso, a depressão insistia em se alojar e por vezes vinham pensamentos suicidas que geravam julgamentos pessoais. Me julgava uma pessoa ingrata, imatura, e por aí vai. Sou hoje muito grata por ter encontrado esse caminho e por todas as medicinas e terapias que nele encontrei. Cada medicina, terapia e pessoa que me auxiliou nesse processo me mostrou que só eu mesma tenho a chave para minha cura. Hoje, após ter decretado minha cura, eu tenho a consciência de que a depressão talvez sempre me acompanhe no inconsciente, porém, posso escolher alimentá-la ou não.
Consigo hoje compreender os gatilhos que podem me colocar em um quadro depressivo e, com prática, levo o dia a dia buscando driblar todos eles, utilizando cada gatilho como um potencial de transformação pessoal. Não é fácil, mas escolho não tornar difícil. Como tudo na vida, é uma prática. tem dias mais fáceis e dias menos fáceis. Talvez para você seja diferente. Talvez você nunca tenha passado por uma depressão, nunca tenha pensado em suicídio, ou tenha algum familiar com depressão. Talvez você se identifique.
Talvez você precise de remédios ou talvez você não precise mais. Independente de como é o seu contato com esse assunto, compartilho a minha trajetória pessoal. Acredito que é de extrema importância abordar esse assunto e chega de ignorá-lo. A depressão é uma nuvem negra e o suicídio um grito por socorro, uma fuga para tentar sair de uma nuvem escura onde nem conseguimos ver com clareza diante dos nossos olhos.
Procure ajuda, se esse for seu caso, e ofereça ajuda se você conhece alguém com depressão ou com pensamentos suicidas. Mesmo se você não conseguir entender, estenda a mão. Acredite, essa pessoa já pode estar se julgando muito e não há a necessidade do julgamento de outras pessoas. Acredite. Acredite em si mesmo e acredite no amor. Todos os seres merecem uma segunda chance e merecem encontrar sua paz interior e felicidade. Não estamos sozinhos. Sigo no intento de auxiliar aos que passam por caminhos parecidos e compartilho hoje esse texto afim de incentivar a cada leitor para fazer o mesmo. Acolha, compreenda e ajude, sempre que possível.
Sua bondade e compaixão pode lembrar alguém de seu Sol interior e, assim, ajudar o arco-íris a aparecer.
Hari Om Tat Sat Com carinho, Larissa Marques